Socorro, meu filho precisa escolher uma profissão!

"Como escolher uma profissão" é uma das perguntas que mais assombram os estudantes ao longo do ensino médio. Eles precisam pensar quais passos querem seguir depois que se formam, e qual curso de graduação prestar no vestibular.

Em uma visão tradicional da orientação profissional, essa pergunta seria facilmente respondida por um simples teste que resultaria em uma resposta pronta.

Mas, considerando o mundo complexo que vivemos e a importância de se levar em consideração a influência da sociedade na escolha da profissão, é muito mais relevante orientar os adolescentes a buscar essa resposta a partir de um processo de autoconhecimento, construção da identidade e reflexão sobre o mundo do trabalho.

Estratégias para escolher a profissão certa

Um primeiro passo para ajudá-los é orientá-los quanto aos diferentes conceitos – por exemplo, de curso de graduação, profissão e carreira.

A profissão é a ocupação da pessoa em si. É o cargo que ela ocupará a partir de uma capacitação, como um curso técnico ou um curso de graduação. A carreira seria um segundo momento, quando ela acumula conhecimentos e competências em sua profissão por conta do seu desenvolvimento profissional, seja em diferentes empresas ou ocupando distintos cargos.

Ao escolher uma profissão, é importante que o estudante pesquisa e pense sobre:

  • suas potencialidades e fraquezas;
  • seus interesses e suas expectativas;
  • o que quer fazer e/ou o que quer ser;
  • o ambiente de trabalho e a rotina da profissão escolhida;
  • qual a carreira almejada.

Tem gente que quer ser biólogo porque gosta de Ciências da Natureza, mas não explorou outras profissões que podem ser exercidas nessa área (como Medicina, Agronomia, Oceanografia). Outros escolhem uma profissão sem pensar no dia a dia no ambiente de trabalho. Esse profissional fica o tempo todo trancado em um escritório ou numa fábrica? Tem que fazer muitos relatórios? Ou essa profissão requer muitas viagens e deslocamentos?

Escolher uma profissão é um processo complexo que, além de requerer muita reflexão, ocorre durante o período em que os adolescentes estão à flor da pele. Por isso, também é fundamental acolhê-los em suas inseguranças, nervosismo e ansiedade.

Vocação, senso de propósito, estabilidade financeira... Quais os fatores que mais influenciam o senso de realização profissional?

Diversos autores e autoras têm se debruçado sobre a questão da satisfação no trabalho pelo menos desde a década de 30. Alguns a classificam como um sentimento, enquanto outros a veem como uma atitude, entre outras concepções.

Para o psicólogo norte-americano Edwin A. Locke, um dos mais renomados pesquisadores do assunto, a satisfação no trabalho é um estado emocional que depende dos valores de cada indivíduo e de como eles se realizam a partir dessa atividade. E, apesar de ser individual, é influenciada por fatores externos.

Fatores que impactam o senso de realização profissional

  • oportunidades de progresso e desenvolvimento profissional;
  • perspectiva na carreira;
  • equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional;
  • remuneração e benefícios;
  • status social da profissão;
  • relacionamento com colegas e gerência;
  • estabilidade no emprego;
  • rotina de trabalho.

A influência da sociedade na escolha da profissão pelos jovens

Assim como escolher uma profissão hoje em dia é muito diferente do que antigamente, os elementos que levam à realização profissional também diferem entre a geração atual e as anteriores.

Um estudo da Deloitte realizado com 23 mil respondentes de 44 países revelou que 89% dos Millennials (pessoas nascidas entre o início dos anos 80 e 90) e 86% da geração Z (nascidos entre o final dos anos 90 e o começo dos anos 2010) acreditam que ter um senso de propósito no trabalho é muito importante para a sua satisfação profissional e o seu bem estar.

No Brasil, um levantamento do Instituto Locomotiva, em parceria com a Question Pro, trouxe resultado semelhante sobre a geração Z. A pesquisa, com amostra de 1,5 mil entrevistas, indicou que a geração Z valoriza mais flexibilidade e trabalho com propósito. Já os millennials valorizam mais salário, reconhecimento profissional e plano de carreira.

Considerando a influência da sociedade na escolha da profissão, é natural e recomendado que os jovens levem esses fatores em consideração na hora de decidir qual carreira seguir, para assegurar uma escolha mais consciente e expectativas mais realistas quanto à sua realização como profissional.

O desafio de ajudar os filhos a escolher uma profissão

Quando olhamos para a influência da sociedade na escolha da profissão, é inevitável pensar na opinião dos pais.

A aprovação deles em relação à profissão é um dos fatores que mais pesam para os adolescentes que estão nessa fase. E o mesmo ocorre do lado dos responsáveis, que também sentem a importância dessa decisão.

Mais ajuda quem não atrapalha

Na tentativa de ajudar os filhos no processo de como escolher uma profissão, é comum que os pais tomem atitudes que geram mais frustração, insegurança e indecisão.

São erros comuns dos pais nesse momento:

Impor uma determinada carreira

Ocorre muito com famílias que já têm uma condição financeira estabilizada ou quando existe um negócio familiar que eles querem que seja herdado pelos filhos. Por exemplo, quando o pai tem um escritório de advocacia e quer que o adolescente curse Direito.

Achar que esse processo é fácil

Muitas mães e pais pensam que sabem dar dicas porque já passaram por esse momento. Porém, é preciso considerar que hoje existe uma gama maior de profissões a serem avaliadas e fontes de informação sobre o tema – o que pode ser bom, mas também pode gerar mais dúvidas.

Pressionar o filho a tomar uma decisão logo

Às vezes, os pais nem sabem que estão pressionando os filhos, pois não percebem que perguntar incessantemente sobre o processo tende a despertar mais ansiedade. Outras vezes, eles acabam sendo mais incisivos com relação a algumas profissões que acham que têm a ver com o filho, o que pode levar a uma imposição.

Não oferecer ajuda ou afastar-se

Seja por medo de pressionar ou por simples desinteresse, não mostrar apoio ou não estar disponível para conversar também pode fazer mal ao estudante.

Assim, é coerente que a participação dos pais na decisão da carreira seja vista como negativa por conta desses erros – muitas vezes cometidos sem intenção. No entanto, quando os pais dão apoio e indicam os possíveis caminhos, mas não tomam a decisão pelos filhos, a influência deles não só é benéfica, como muito bem vinda.

O vestibular vem aí! Como ajudar seu filho a encarar esse desafio com mais serenidade

"Vestibular é um ato de coragem". É o que diz Maria José Gimenes, orientadora educacional da 3a série do ensino médio do Colégio Stockler. "É o ato de assumir uma possibilidade e batalhar pra que este objetivo seja alcançado", completa.

Isso porque, ainda que existam dicas sobre como escolher uma profissão, não há garantias de que a decisão sobre qual carreira seguir é a ideal – se é que isso existe.

Por isso, é natural que os adolescentes estejam ansiosos, inseguros e impacientes com a proximidade dos vestibulares.

Para ajudar os filhos a encarar esse desafio com mais serenidade, a orientadora Maria José Gimenes recomenda:

Respeitar o seu momento e sentimentos

A adolescência em si já é um período de muitas mudanças físicas e psicológicas, e o vestibular costuma aumentar essa tensão. Os pais devem considerar essas transformações e acolher as inseguranças do adolescente.

Entender os critérios de escolha

Procure entender o que o seu filho está levando em consideração para decidir qual curso seguir na faculdade, se esses critérios fazem sentido para ele, e se estão alinhados com a realidade do mundo de trabalho. Caso não, ajude-o a enxergar melhor esses cenários.

Mostrar interesse e estar junto

Ofereça ajuda para, caso o seu filho queira, pesquisar junto sobre os detalhes da profissão e da rotina de trabalho ou acompanhá-lo em visitas às faculdades que pretende cursar.

Se necessário, procure ajuda

Reconheça caso você não consiga ajudar o seu filho com o que ele precisa – seja por falta de tempo ou conhecimento. O importante é ter uma conversa franca sobre essas limitações e oferecer possibilidades, como procurar ajuda profissional ou um familiar que esteja mais disponível para ajudá-lo a tomar decisões de forma embasada.

A influência da sociedade na escolha da profissão é enorme – e os pais são um dos fatores mais importantes. Para tirar o melhor proveito desse período, o ambiente familiar deve ser um fórum de discussão de dúvidas: um espaço aberto e acolhedor em que pais e filhos possam conversar sem medo sobre profissão, carreira e vestibular.

Com informações e dicas de Maria José Gimenes, psicóloga especializada em orientação profissional e orientadora da 3ª série do ensino médio do Colégio Stockler, da Pesquisa Gen Z e Millennials 2024 da Deloitte, do artigo Satisfação no trabalho – uma breve revisão e da Revista Veja

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